Sobre a autora do Livro, FILHA DA POESIA,
Cármen Beatriz Passos, Lamartine Passos comenta:
Nascida em
São José do Egito, que se destaca pela cultura poética de sua
gente, filha de poetas, sobrinha e aluna da professora Carminha Gomes, que já
no ensino fundamental incitava seus alunos à reestruturação de frases, uma
nuance técnica de viabilizar rima e métrica, culminando com aulas de
versificação. Graduou-se em letras pela UFPE, onde teve a oportunidade de
vislumbrar mestres como Ariano Suassuna e Marcus Aciolly.
Retorna à sua terra natal, onde iniciou a docência e, adepta do
sócio-construtivismo do mestre Paulo Freire, trouxe inovação ao ensino local,
reafirmando a importância da poesia não apenas enquanto deleite artístico, mas
também como mecanismo de transformação social.
Fez pós-graduação em língua portuguesa e literatura brasileira. Em
sua monografia, Avaliação do Texto Escrito na Escola, constata que ainda é
preciso sentir a linguagem escrita dos alunos enquanto indivíduos emocionais;
que os textos, geralmente, são avaliados com base estritamente gramatical, sem
a observância do que está implícito nas entrelinhas, apesar de acreditar que
todos os educadores são capazes de enxergar, pela ótica dos poetas, detalhes da
alma, desde que se busque.
Cármen Beatriz traz a poesia em suas entranhas e, apesar de conhecimento
técnico, distancia-se da erudição. Sua poesia fala de seu mundo, de conflitos e
conquistas, grita por justiça social, retrata a sua terra. Seus poemas
simplesmente amam.
Realista, vive com frequência a iminência progressiva do fim, o que a leva ao
encontro da melancolia, sendo, pois, a saudade quem conduz, na maioria das
vezes, a sua carruagem de versos. Noutros momentos, diz que vale a pena viver.
Em Filha da Poesia, seu primeiro
filho literário, apesar de mesclado de décimas e sextilhas, expressa a
predileção pelo soneto em decassílabos.
Eis aqui uma sequência de sentimentos enfeitados com metáforas, rima e
métrica.
Ainda sobre a autora
do Livro, FILHA DA POESIA, Cármen Beatriz Passos, Maria Lúcia Gomes Leite
Campos comenta:
No decorrer dos anos 1990, surgia em São José do Egito, a terra da poesia, o sindicato
dos trabalhadores em educação, na sua luta incansável por melhores condições de
trabalho das escolas.
Uma professora recém-admitida, Cármen Beatriz, subia ao palanque
e, com voz firme, mas emocionada, declamava um poema de José Régio, que repete
veementemente: “... só sei que não vou por aí...”.
De fato, ela não buscou os mesmos caminhos, comuns, dos pobres
mortais: ela trilhou as estradas da poesia, que não pode ser percorrida por
aqueles que julgam que “a vida é só isso que se vê”...
Educadora devotada, seguidora dos ensinamentos do grande Paulo
Freire, entendeu logo que “vivendo, se aprende; mas, o que se aprende mais é só
a fazer as maiores perguntas”.
Ela poderia ter escolhido qualquer outra profissão. Mas, que outro
trabalho lhe daria a oportunidade de conduzir as pessoas para a libertação,
através do conhecimento e da arte poética? Suas aulas, com a presença da
música, do teatro e da poesia encaminharam jovens marginalizados.
Como poetisa, carrega n’alma um pouco de todos os movimentos
literários: do Barroco, a certeza da efemeridade da vida; do Arcadismo, o amor
pela natureza; do Romantismo, a profunda subjetividade; do Realismo, a ironia
sutil; do simbolismo, a musicalidade dos versos; do pré-modernismo, mistura de
estilo; do Modernismo, o intimismo e a espiritualidade de Cecília Meireles na
sua insatisfação entre o efêmero e o eterno.
Neste seu primeiro livro de poesias ela despeja toda sua emoção,
criatividade e, como não poderia deixar de ser, a sua realidade, o seu
desencanto diante das injustiças sociais.
Resta-me agradecer à prima, amiga, irmã, poetisa Cármen Beatriz,
pelo prazer indescritível de apresentar não apenas o livro, mas a autora dessa
maravilhosa coleção de poemas que tão bem ilustra e honra a nossa terra e a
nossa gente. Eu, mais que ninguém, pude acompanhar de perto a inspiração
criadora que gerou tanta beleza e harmonia em defesa dos direitos da pessoa
humana.
Creio que os versos que melhor retratam a sua existência são os de
Cecília Meireles:
“Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste;
Sou poeta...”
Alguns Sonetos do Livro: FILHA DA
POESIA
PROCURA-SE DEUS
São em vão os caminhos
palmilhados
Por quem faz nesse mundo
violência.
Quantas guerras, humanos
humilhados
Por pessoas de grande
prepotência!
Buscam Deus nos lugares mais
errados,
Onde reina a injustiça, a
incoerência,
Onde a paz e o amor são
enterrados,
Onde impera o cinismo, a
indecência.
Rezam aos céus pra pedir dinheiro
e fama...
A grandeza da alma é esquecida,
A moral e a bondade vão pra lama.
Quando alguém por justiça ainda
clama,
Viram as costas, desprezam a voz
sofrida,
Mas é lá que cintila a santa
chama.
Cármen
Beatriz Passos
EDUCAR PARA SER
Solidário, fraterno, cidadão,
Mais leal, mais honesto,
responsável;
Corajoso na busca da união,
Sendo um ser tão brilhante,
quanto amável.
Ser alguém que despreza a
falsidade;
Que não cala diante da opressão,
Que a enfrenta, com fé,
serenidade,
Pra vencer todo o mal da
repressão.
Educar pra não ter valores vãos,
Pra se ver nesse mundo mais
sentido,
Onde todos se sintam mais
irmãos...
Nesse empenho onde todos dão-se
as mãos,
No futuro o saber será colhido
Por pessoas de mente e corpo
sãos.
Cármen
Beatriz Passos